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Resenha Crítica – Trilogia Kafka: A Anatomia do Cárcere e a Estetização da Impotência Resenha Crítica — Trilogia Kafka: A Anatomia do Cárcere e a Estetização da Impotência Por Márcia Boaro Publicado em Os Que Lutam O espetáculo Trilogia Kafka , em cartaz no Teatro Núcleo Experimental, é fruto do trabalho conjunto de Helio Cicero, André Capuano e Pedro Conrado, sob direção e adaptação de Cesar Ribeiro. Mais do que uma montagem que transita entre literatura e cena, trata-se de um projeto dramatúrgico que articula atuação, espaço e pensamento em uma operação estética de alta densidade. Ao escolher quatro textos de Franz Kafka — Diante da Lei, O Artista da Fome, Relatório para uma Academia e Carta ao Pai —, o espetáculo não realiza uma adaptação no sentido tradicional, mas constrói um dispositivo de análise, exposição e desnudamento dos sistemas de opressão que a...

Resenha: "Nora e a Porta" – O Grito que Ainda Ecoa

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  Resenha: "Nora e a Porta" – O Grito que Ainda Ecoa por Márcio Boaro A força de Casa de Bonecas não vem apenas de sua estrutura dramatúrgica, mas da denúncia que carrega – e que, infelizmente, segue necessária. Em Nora e a Porta , a montagem que está no  Sesc revisita a peça de Henrik Ibsen a partir de uma perspectiva contemporânea, ressaltando o incômodo que persiste: se a forma teatral evoluiu nos últimos 150 anos, a opressão patriarcal contra as mulheres continua como uma realidade estrutural. Neste tempo, o problema de origem permanece: o patriarcado é a base do capitalismo e da sociedade burguesa, ambos se beneficiam de estruturas de poder desiguais. O drama burguês é uma forma que foi criada para valorizar a sociedade burguesa e sua lógica de organização. No final do século XIX, essa estrutura começou a ser questionada, e é nesse contexto que Ibsen escreve Casa de Bonecas . O que torna sua peça fundamental é o fato de que ela denuncia o sistema a partir de dentro, s...

O Jardim das Cerejeiras: Entre o Cuidado Estético e a Crítica Social

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  O Jardim das Cerejeiras: Entre o Cuidado Estético e a Crítica Social   Por Márcio Boaro No espaço onde Antunes Filho nos brindou por décadas com criações memoráveis, o Teatro Anchieta, no SESC Consolação, agora floresce sob as cerejeiras de Tchekhov, conduzidas pela visão sensível de Ruy Cortez e a Cia da Memória. A montagem de O Jardim das Cerejeiras não apenas encanta pela estética, mas provoca reflexões profundas sobre a decadência da aristocracia, o avanço da burguesia e a persistente invisibilidade da classe trabalhadora.   Se há uma palavra que sintetize o espírito dessa montagem, ela é “cuidado” . Cada elemento cênico parece calculado para transportar o espectador a uma imersão sensorial e emocional. A cenografia, com balões brancos flutuando sobre a plateia e uma rampa branca que avança pelo centro do teatro, cria um jardim em que o público literalmente caminha entre as estações e as camadas narrativas.   Essa escolha arquitetônica rompe a rigidez do palco...