Resenha Crítica – Trilogia Kafka: A Anatomia do Cárcere e a Estetização da Impotência Resenha Crítica — Trilogia Kafka: A Anatomia do Cárcere e a Estetização da Impotência Por Márcia Boaro Publicado em Os Que Lutam O espetáculo Trilogia Kafka , em cartaz no Teatro Núcleo Experimental, é fruto do trabalho conjunto de Helio Cicero, André Capuano e Pedro Conrado, sob direção e adaptação de Cesar Ribeiro. Mais do que uma montagem que transita entre literatura e cena, trata-se de um projeto dramatúrgico que articula atuação, espaço e pensamento em uma operação estética de alta densidade. Ao escolher quatro textos de Franz Kafka — Diante da Lei, O Artista da Fome, Relatório para uma Academia e Carta ao Pai —, o espetáculo não realiza uma adaptação no sentido tradicional, mas constrói um dispositivo de análise, exposição e desnudamento dos sistemas de opressão que a...
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O Guarani: para além de uma rigidez histórica, a necessidade de rever e reescrever a Ópera
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Por João Alves Foi escolha certeira do Theatro Municipal de São Paulo abrir o ano de 2025 com a remontagem da ópera Il Guarary de Carlos Gomes com concepção de Ailton Krenak, direção cênica de Cibele Forjaz e direção musical de Roberto Minczuk. A montagem realiza um grande impacto com relação a ópera em nosso imaginário colonizado brasileiro ao colocar dentro da visualidade da encenação os Guaranis reais em contraponto a ideia romântica de um “herói indígena” ao gosto dos colonizadores. É bom ressaltar que isso não diminui a obra de Carlos Gomes, que era um homem de seu tempo, ou seja, do Século XIX, envolvido pelas formas de tratamento artístico e ideológico acerca da questão indígena do seu momento histórico. Colocar novas camadas de tintas nesta história, adensadas pelas lutas e conquistas históricas dos povos indígenas, é dever e função da ópera em nosso momento histórico, o século XXI. Foto: Ricardo Salvador / divulgação Desde os primeiros momentos, os acordes cl...
Violência e História: A Força da Dramaturgia em A Banda Épica na Noite das Gerais
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Violência e História: A Força da Dramaturgia em A Banda Épica na Noite das Gerais A Companhia do Latão mais uma vez nos presenteia com um espetáculo que alia pesquisa histórica, teatralidade e uma profunda análise política da realidade brasileira. Com A Banda Épica na NOITE DAS GERAIS , a companhia revisita a Ditadura Militar, construindo uma narrativa fragmentada, cheia de camadas, onde os personagens e a história recente do Brasil são os verdadeiros protagonistas. Foto de João Maria O elenco numeroso equilibra atores experientes e jovens, trazendo vitalidade à cena e reforçando a ideia de que a história se desenrola de maneira coletiva. O início da peça sugere uma trama de mistério: acompanhamos uma banda universitária, um grupo privilegiado na realidade dos anos 70, viajando pelo interior de Minas Gerais. Mas, conforme a dramaturgia se desvela, emerge a história do Reformatório Krenak e mais um triste episódio da ditadura, narrado por vozes que falam com medo, como se fossem teste...
Resenha: "Nora e a Porta" – O Grito que Ainda Ecoa
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Resenha: "Nora e a Porta" – O Grito que Ainda Ecoa por Márcio Boaro A força de Casa de Bonecas não vem apenas de sua estrutura dramatúrgica, mas da denúncia que carrega – e que, infelizmente, segue necessária. Em Nora e a Porta , a montagem que está no Sesc revisita a peça de Henrik Ibsen a partir de uma perspectiva contemporânea, ressaltando o incômodo que persiste: se a forma teatral evoluiu nos últimos 150 anos, a opressão patriarcal contra as mulheres continua como uma realidade estrutural. Neste tempo, o problema de origem permanece: o patriarcado é a base do capitalismo e da sociedade burguesa, ambos se beneficiam de estruturas de poder desiguais. O drama burguês é uma forma que foi criada para valorizar a sociedade burguesa e sua lógica de organização. No final do século XIX, essa estrutura começou a ser questionada, e é nesse contexto que Ibsen escreve Casa de Bonecas . O que torna sua peça fundamental é o fato de que ela denuncia o sistema a partir de dentro, s...
Ópera Febril: A História do Trabalho e Seus Ecos no Presente
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Ópera Febril: A História do Trabalho e Seus Ecos no Presente Desde o título, Ópera Febril sugere um espetáculo de grande fôlego, onde "ópera" remete a "obra" e "fabril" nos conduz diretamente ao universo do trabalho. A peça, encenada pela Cia do Trailer – Teatro em Movimento, tem a direção de Marcelo Soler e André Ravasco, que também divide o palco com Andrei Gonçalves, Caren Ruaro, Laura Ramalho e Rafael Braga. A montagem nos transporta para dois momentos cruciais da exploração do trabalho no Brasil. Como é característico do teatro documentário, os atores, em um primeiro momento, apresentam seus relatos de forma distanciada, sem personalismo, antes de mergulhar em um dos casos mais simbólicos da industrialização brasileira: a história dos Cobertores Parahyba. Situada em São José dos Campos, essa fábrica tornou-se emblemática ao longo do século XX, e a peça acerta ao reconstruí-la a partir dos relatos e documentos sob a perspectiva dos trabalhadores. ...
Magma Jagunço: A permanência da brutalidade como identidade
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Magma Jagunço: A permanência da brutalidade como identidade Por Márcio Boaro. Conheço e admiro o trabalho do Tablado há muitos anos. Este coletivo realiza uma pesquisa profunda sobre a base do que deseja expressar em sua dramaturgia. Os atores são verdadeiros coautores das obras, compreendendo não apenas suas próprias personagens, mas toda a estrutura e intenção da peça que apresentam. No caso de Magma Jagunço , o diretor e dramaturgo Clayton Mariano, junto ao elenco, realizou um belíssimo trabalho. (foto de divulgação) O espetáculo é uma produção do Tablado (@tablado_sp), estreando no TUSP e dando continuidade à trajetória do grupo, que há anos desenvolve uma pesquisa estética e política profunda sobre o teatro. A peça mistura elementos do faroeste e do cinema brasileiro para abordar a construção da violência e do poder no Brasil, com um olhar crítico sobre os mecanismos históricos que sustentam essa estrutura. Ficha Técnica: Texto e direção: Clayton Mariano ...
Fragmentos da Cidade: A Avenida Paulista em Cena
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Fragmentos da Cidade: A Avenida Paulista em Cena por Márcio Boaro Nasci e fui criado em São Paulo. Minha vida sempre orbitou pela Avenida Paulista, esse centro nervoso da cidade, onde se cruzam o cotidiano apressado, o trabalho exaustivo, os resquícios culturais e as manifestações políticas. Foi por isso que fiquei especialmente curioso ao saber da montagem de Avenida Paulista , dirigida por Felipe Hirsch, com codireção de Juuar. A curiosidade se intensificou pelo fato de eu não ter assistido a Avenida Dropsie , mas ter ouvido muitos comentários positivos sobre a obra. O tempo passou, a curiosidade permaneceu, e assim que soube da nova montagem, fui ao teatro ainda no segundo dia da temporada. (divulgação) Ao me acomodar na plateia, um susto: um aviso de que o espetáculo teria 180 minutos, sem intervalo. Ainda assim, estava disposto a me entregar à experiência. O elenco me deixou particularmente animado, reunindo atores que admiro, como Georgette Fadel, Roberta Estrela D'Alva e...