Resenha Crítica – Trilogia Kafka: A Anatomia do Cárcere e a Estetização da Impotência Resenha Crítica — Trilogia Kafka: A Anatomia do Cárcere e a Estetização da Impotência Por Márcia Boaro Publicado em Os Que Lutam O espetáculo Trilogia Kafka , em cartaz no Teatro Núcleo Experimental, é fruto do trabalho conjunto de Helio Cicero, André Capuano e Pedro Conrado, sob direção e adaptação de Cesar Ribeiro. Mais do que uma montagem que transita entre literatura e cena, trata-se de um projeto dramatúrgico que articula atuação, espaço e pensamento em uma operação estética de alta densidade. Ao escolher quatro textos de Franz Kafka — Diante da Lei, O Artista da Fome, Relatório para uma Academia e Carta ao Pai —, o espetáculo não realiza uma adaptação no sentido tradicional, mas constrói um dispositivo de análise, exposição e desnudamento dos sistemas de opressão que a...

As belas "Mortas" de Oswald na Oswald

Na sexta feira, 13 de maio, assisti a uma bela encenação na Oficina Cultural Oswald de Andrade da "A Morta" de Oswald de Andrade criada pela Cia Aberta de Teatro, com direção geral de Cacá Toledo, com um grande elenco e ficha técnica - todos muito competentes. A encenação percorre as dependências do térreo do centenário edifício da Rua Três Rios apropriando-se muito bem das diferentes características do prédio.


Foto de João Maria Silva Jr

Enquanto assistia ao espetáculo me ocorreu que as montagens dos textos modernistas deveriam ser recorrentes, penso que seria útil na construção de um olhar diferenciado sobre nossa herança teatral, além de conhecermos melhor detalhes de um texto tão elaborado, veríamos os diferentes matizes dos encenadores, tendo os mesmos textos como partida. A ideia me ocorreu por conta da pungência da montagem da Cia Aberta que não se eximiu das dificuldades impostas pela dramaturgia, pelo contrário, expôs cenas narrativas que não eram de fácil assimilação nem quando foram escritas há 85 anos, não existe nenhuma fabula, o fio condutor é tênue, o texto possui diversos tipos de narração com diversas camadas. A questão é que mesmo o texto não sendo aristotélico e nem brechtiano desperta interesse, e assim cada pessoa do público pode assimilar as propostas do autor dentro de suas possibilidades. Isto ocorre assim como acontece em desfiles de escolas de Samba, onde as alegorias dão outros sentidos as ideias apontadas no samba. Na encenação de A Morta isto ocorre de forma muito elaborada, nos fazendo pensar em questões sociais graves que continuam na ordem do dia, sem renunciar ao prazer estético. Assisti muito teatro nestes últimos 40 anos (tenho 55) mas a ideia de Oswald de colocar a classe trabalhadora vendendo sua vida para os mortos da burguesia me parece imbatível, pode-se resolver com uma imagem, com poucas palavras uma ideia de que força e alcance universal enquanto vivermos sob está sociedade de classes sociais, o conteúdo é claro, a forma proposta no texto é uma alegoria ampla, a cena fica poderosa e nada panfletária ou de um didatismo simplório.

Foto de João Maria Silva Jr

Este parentesco do Carnaval com o teatro Antropofágico de Oswald não é novidade, o próprio autor dá sinais disto, o Oficina desenvolveu trabalhos importantíssimos a partir desta premissa nos anos 60. Mas esta fonte está longe de secar, é tão rica que parece intocada. Tenho impressão de que a intenção de Zé Celso nos anos 60 (O Rei da Vela) ou de Antunes nos anos 70 (Macunaíma) não foi o de fazer nunca foi fazer as obras definitivas, mas sim obras de apresentação, que trouxessem a importância e a necessidade de mergulhar na beleza e na complexidade de nossa dramaturgia modernista. Acontece que competência destes dois encenadores apresentou as plateias espetáculos belíssimos, tão belos que causou um efeito não esperado, os colocou em um pedestal, outros encenadores ficaram receosos de montar estes textos e se expor a comparações com o que foi realizado que à primeira vista parecem ser obras definitivas.

A Cia Aberta realizou a cena com maestria usando a parte central do prédio como se fosse uma passarela do sambódromo, e assumindo explicitamente o parentesco próximo ao carnaval. Este é um exemplo, talvez nem seja o melhor, de como podemos aprender visitando a obra de Oswald, Mario e outros. Na verdade, ao criar uma encenação de uma destas obras estamos nos visitando, nos conhecendo como nação.

Local: Oficina Cultural Oswald de Andrade – Rua Três Rios, 363 – Bom Retiro – São Paulo.

Temporada: 11 a 28/5. Quarta a sexta, às 20h e sábados, às 18h. 12 apresentações.

As apresentações seguem até 28 de maio, de quarta a sábado, às 20h.

Peça itinerante e a capacidade em locais fechados é de 40 a 60 lugares.

Ingressos: Grátis. Retirar 1h antes.

Duração: 90 minutos

É necessário apresentar o comprovante de vacinação contra a Covid-19, com, pelo menos, duas doses ou dose única. É recomendado a utilização de máscara nos espaços internos da Oficina.

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