Resenha Crítica – Trilogia Kafka: A Anatomia do Cárcere e a Estetização da Impotência Resenha Crítica — Trilogia Kafka: A Anatomia do Cárcere e a Estetização da Impotência Por Márcia Boaro Publicado em Os Que Lutam O espetáculo Trilogia Kafka , em cartaz no Teatro Núcleo Experimental, é fruto do trabalho conjunto de Helio Cicero, André Capuano e Pedro Conrado, sob direção e adaptação de Cesar Ribeiro. Mais do que uma montagem que transita entre literatura e cena, trata-se de um projeto dramatúrgico que articula atuação, espaço e pensamento em uma operação estética de alta densidade. Ao escolher quatro textos de Franz Kafka — Diante da Lei, O Artista da Fome, Relatório para uma Academia e Carta ao Pai —, o espetáculo não realiza uma adaptação no sentido tradicional, mas constrói um dispositivo de análise, exposição e desnudamento dos sistemas de opressão que a...

O espetáculo "Boris" está pronto

 Assistir ao espetáculo “Bóris não está pronto” foi uma experiencia duplamente recompensadora, tanto pelo espetáculo por si, quanto por ver o desenvolvimento do trabalho do Coletivo Dolores Boca Aberta que conheço há muitos anos, mas que eu já há algum tempo não acompanhava (erro meu). Trata-se de um belíssimo espetáculo que discute a masculinidade de forma singular. 

De partida o trabalho se inicia com um tema musical que para mim é um achado, uma canção que é muito popular entre os adolescentes há mais de 30 anos pelas escolas da periferia paulistana, mas que colocada no contexto que o espetáculo nos propõe, passa a simbolizar o método na formação do jovem dentro da cultura machista, é curioso rever e passar a "estranhar" uma música tão conhecida.



As maneiras como homens e mulheres se comportam correspondem aos aprendizados socioculturais que nos ensinam a agir de acordo com prescrições de cada gênero. Além da determinação de dimensão biológica e associada à natureza (sexo) da dimensão social e associada à cultura (gênero).  As representações de gênero são distintas de uma cultura para outra, tanto que existe uma grande diversidade de expressões em diferentes grupos e locais, cabe observar como isto ocorre para que possamos identificar e desnaturalizar os padrões. O espetáculo cumpre este papel, demonstrando e assim desnaturalizando o “homem periférico paulistano”, como este tipo social específico tem sua identidade de gênero forjada, e como esta construção influi nas suas relações sociais.



A direção foi precisa, dramaturgia clara, é interessante ver como alguns elementos que eram apontados em outros espetáculos do Coletivo agora são apresentados de forma madura, a linguagem do Dolores possui uma linguagem própria, nos mais de vinte anos de convivio entre os seus componentes. Os quatro atores estão seguros, todos têm clareza de que tipo de debate trazem a cena. Elenco e direção com grande afinamento, todos com um proposito único.

Para mim particularmente foi importante assistir ao espetáculo. Fui criado na periferia (não longe daí) e há muitos anos penso em que tipo de pessoa eu seria se não tivesse sido criado inserido na cultura falocrata. Eu me lembro que na adolescência tinha de observar cada fala e cada gesto público, para que correspondesse ao esperado para alguém do meu genero e idade, o menino na periferia ao crescer devia, naquele periodo, provar a sua masculinidade cotidianamente. O Dolores põe esta discussão em pauta com maestria, em um espetáculo sensível, politicamente consciente e nada panfletário.

Um grande espetáculo.

CDC Vento Leste

R. Dr. Frederico Brotero, 60

Cidade Patriarca, São Paulo - SP, 03552-080

ÚLTIMOS DIAS 

Sexta (24/06) 20:00hs
Sábado (24/06) 20:00hs
Domingo (24/06) 19:00hs

FICHA TÉCNICA 

DIREÇÃO 
Luciano Carvalho 

ATUAÇÃO 
Tiago Mine 
Cristiano Carvalho 
João Alves
Fernando Couto

ILUMINAÇÃO E TÉCNICA DE SOM
João Alves

DRAMATURGISTA
Tiago Mine e Luciano Carvalho


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