Um Jardim para Educar as Bestas

 As múltiplas fontes de inspiração e os múltiplos criadores da cena de “Um Jardim para Educar as Bestas” criam algo único. Trata-se de uma criação coletiva dos artistas Eduardo Okamoto, Isa Kopelman, Marcelo Onofri e da produtora criadora Daniele Sampaio estreia nacionalmente na Mit em 04 de junho, na Biblioteca Mário de Andrade. Trata-se de um duo para piano e atuação que reescreve um dos trinta e seis capítulos do livro “Homens Imprudentemente Poéticos”, de Valter Hugo Mãe: “A Lenda do Oleiro Saburo e da Senhora Fuyu”. Originalmente ambientada num Japão antigo, a trama é transposta para o sertão brasileiro, em diálogo com textos de Ariano Suassuna, Guimarães Rosa e Euclides da Cunha.

Foto de Nina Peres

Ao se observar as diferentes fontes utilizadas para criação do espetáculo, pode-se ter a falta impressão de que trata de espetáculo hermético, com referências complexas, cifradas. O que ocorre é o exato contrário, as cenas são claras, nada confusas. A trama é bem urdida, bem-acabada. Como resultado de uma grande pesquisa temos um espetáculo delicado e belo. O público pode se entregar sem medo. É claro que diversas contextualizações podem ser feitas pelas pessoas que conhecem as obras utilizadas como base, mas isto ocorre em outra camada, e penso que deva ser feito em um segundo momento, à primeira vista deve-se mergulhar na história sem receios. Pode parecer contraditório, mas fusão de autores e de culturas criou um lugar na cena que aparenta ser próximo, familiar. A dupla (Um ator e um músico) nos apresenta um lugar onde a sensibilidade pode ser acolhida. O espetáculo conta uma história universal de grande alcance, com valor artístico e político.

Foto de Nina Peres

Vivemos em uma sociedade onde o diferente é valorizado. Tanto que dentro do capitalismo existe uma continua busca continua pelo “diferencial competitivo”. Também é preciso ser agressivo para se ter vitórias no mundo corporativo. Ou seja, fomos criados e vivemos sob modelo civilizatórios onde que valoriza a agressividade. O capitalismo como filho dileto do patriarcado tende a valorizar características masculinas. O espetáculo segue um caminho contrário, busca as igualdades. Procura o que parece ser próximo, mesmo em culturas diferentes. A intenção foi sem a de agregar, acolher, criar costuras através do que é mais sensível. O espetáculo nos convida a seguir o caminho do entendimento, do buscar algo de nosso na cultura do outro. Características femininas e desejáveis para uma sociedade mais igualitária. A equipe criativa foi imensamente feliz no proposito, conseguiram um belo jardim, a publico se educa ao visitá-lo, até mesmo aqueles que tem a sua sensibilidade reduzida se aproximando das Bestas. 


“8a MITsp | UM JARDIM PARA EDUCAR AS BESTAS
:: ESTREIA NACIONAL ::

Ficha Técnica
Uma criação de Eduardo Okamoto, Isa Kopelman, Marcelo Onofri e Daniele Sampaio
Colaboração de Yumiko Yoshioka, Nina Pires, Fernando Stankuns, Binho Signorelli e Yasmim Amorim.

Apoio institucional:
Laboratório de Dramaturgia e Escritas Performativas, Laboratório de Linguagens Materiais & Oficinas da Cena, Museu Exploratório

Dias 4, 5, 11 e 12/06, às 17h, na BMA - Biblioteca Mário de Andrade


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