Resenha Crítica – Trilogia Kafka: A Anatomia do Cárcere e a Estetização da Impotência Resenha Crítica — Trilogia Kafka: A Anatomia do Cárcere e a Estetização da Impotência Por Márcia Boaro Publicado em Os Que Lutam O espetáculo Trilogia Kafka , em cartaz no Teatro Núcleo Experimental, é fruto do trabalho conjunto de Helio Cicero, André Capuano e Pedro Conrado, sob direção e adaptação de Cesar Ribeiro. Mais do que uma montagem que transita entre literatura e cena, trata-se de um projeto dramatúrgico que articula atuação, espaço e pensamento em uma operação estética de alta densidade. Ao escolher quatro textos de Franz Kafka — Diante da Lei, O Artista da Fome, Relatório para uma Academia e Carta ao Pai —, o espetáculo não realiza uma adaptação no sentido tradicional, mas constrói um dispositivo de análise, exposição e desnudamento dos sistemas de opressão que a...
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Um presente que veio de Belém: O Solo Marajó
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As dimensões do Brasil foram estabelecidas (próximas das atuais) no Tratado de Madrid de 1750, oficialmente passamos a ter uma extensão continental. Era necessário algo que unisse o território além da força, em 1758 o ensino e o uso do tupi foram abolidos por lei e se instituiu o português como única língua do Brasil. Depois disto vários governos tomaram medidas para que a identidade nacional fosse parida mesmo que fosse a fórceps, isto era necessário para facilitar a administração e consequentemente o lucro. Tudo foi imposto, o que talvez fossem vários países, se manteve unido a força em um só. São questões que não podem ser esquecidas foi caminho cruel e castrador, mas de forma contraditória ao assistir a um belíssimo e delicado espetáculo vindo de Belém do Pará me senti mais brasileiro do que nunca. Ontem (10/02) fui assistir ao Solo de Marajó espetáculo da Companhia Usina Contemporânea monólogo com o ator Claudio Barros e direção de Alberto Silva Neto, dramaturgia dos do...
Mais um presente de Shaw para as plateias atuais - O dilema do médico
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Não sou crítico, nem tenho a pretensão de sê-lo, escrevo resenhas de espetáculos, nunca críticas. Não escrevo para mim, escrevo para compartilhar com amigos e uns poucos interessados nas minhas impressões sobre um trabalho coletivo ao qual dedico a maior parte da minha vida. Posto isto, quando expresso minha opinião sobre um espetáculo tento fazer com que ela traga em seu bojo alguma reflexão pertinente, não cabe uma simples adjetivação. Um espetáculo teatral não é uma bela e suculenta fruta madura tenra e doce. A maioria de nós tem referência semelhante a respeito de frutas então a mera nomeação de adjetivos comuns diz algo. Não é necessário refletir, os elogios querem “vender” a fruta para que ela seja consumida. Após saciados, quando desejamos, buscamos outra. Os espetáculos são uma expressão artística que, quando consequente, nos levam a refletir. No domingo, dia 22 de janeiro, no auditório do MASP assisti a uma montagem do “Dilema do Médico” de Bernard Shaw, direção de Clara ...
Águas que queimam na encruzilhada
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Ontem (dia 04/09) fui pela segunda vez assistir ao espetáculo “Águas que queimam na encruzilhada” do Teatro de Incêndio, direção de Marcelo Marcus Fonseca. Havia assistido a estreia, quis assistir novamente passadas algumas semanas. Resolvi chegar cedo, ao me aproximar do prédio percebi pelo movimento que estava lotado. Tenho costume de observar as diferentes plateias da cidade, fiquei feliz ao ver que em sua maioria era composta por jovens animados, nada pálidos, nada apáticos. Muito bom ver existe um púbico deste tipo para um espetáculo bastante autoral que aparentemente fala sobre as especificidades do bairro do Bixiga, traz interesse. O espetáculo fala sobre a vida de uma população de um cortiço imaginário do Bairro do Bixiga, através deste mote vemos muito de como é a vida dos menos assistidos que vivem as margens das grandes cidades brasileiras, apesar de tratar-se de um bairro central, o Bixiga em grande parte não usufrui das benesses do novo “ciclo imobiliário”...
O espetáculo "Boris" está pronto
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Assistir ao espetáculo “Bóris não está pronto” foi uma experiencia duplamente recompensadora, tanto pelo espetáculo por si, quanto por ver o desenvolvimento do trabalho do Coletivo Dolores Boca Aberta que conheço há muitos anos, mas que eu já há algum tempo não acompanhava (erro meu). Trata-se de um belíssimo espetáculo que discute a masculinidade de forma singular. De partida o trabalho se inicia com um tema musical que para mim é um achado, uma canção que é muito popular entre os adolescentes há mais de 30 anos pelas escolas da periferia paulistana, mas que colocada no contexto que o espetáculo nos propõe, passa a simbolizar o método na formação do jovem dentro da cultura machista, é curioso rever e passar a "estranhar" uma música tão conhecida. As maneiras como homens e mulheres se comportam correspondem aos aprendizados socioculturais que nos ensinam a agir de acordo com prescrições de cada gênero. Além da determinação de dimensão biológica e associada à natureza (sex...
Um Jardim para Educar as Bestas
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As múltiplas fontes de inspiração e os múltiplos criadores da cena de “Um Jardim para Educar as Bestas” criam algo único. Trata-se de uma criação coletiva dos artistas Eduardo Okamoto, Isa Kopelman, Marcelo Onofri e da produtora criadora Daniele Sampaio estreia nacionalmente na Mit em 04 de junho, na Biblioteca Mário de Andrade. Trata-se de um duo para piano e atuação que reescreve um dos trinta e seis capítulos do livro “Homens Imprudentemente Poéticos”, de Valter Hugo Mãe: “A Lenda do Oleiro Saburo e da Senhora Fuyu”. Originalmente ambientada num Japão antigo, a trama é transposta para o sertão brasileiro, em diálogo com textos de Ariano Suassuna, Guimarães Rosa e Euclides da Cunha. Foto de Nina Peres Ao se observar as diferentes fontes utilizadas para criação do espetáculo, pode-se ter a falta impressão de que trata de espetáculo hermético, com referências complexas, cifradas. O que ocorre é o exato contrário, as cenas são claras, nada confusas. A trama é bem urdida, bem-acabad...
O mais do que nessário Papa Highirte
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Muitas vezes ao assistir a espetáculos relevantes para o momento digo que é um trabalho necessário. A montagem do Grupo Tapa para "Papa Highirte" de Oduvaldo Vianna Filho vai muito além disto. Devo começar pela importância de se trazer a público uma obra ainda pouco conhecida de um grande autor nacional. Não se trata de qualquer texto, trata-se de uma das melhores obras do dramaturgo. Vianinha é reconhecido como um dos expoentes de uma grande geração. Um autor que só não foi maior porque foi podado duas vezes; primeiro pela ditadura e depois pela doença, que o levou a morte prematura. Só por este mérito esta montagem já mereceria destaque, trazer este texto para cena já é por si algo grande. Ao observar as cenas percebo que se trata de uma peça épica. Mesmo a emoção sendo alcançada em diversos momentos, ela é sempre usada com parcimônia, sempre na medida certa e a favor da compreensão da história. Explico; toda vez que alguma cena chega perto de nos envolver emociona...
Assistir Foxfinder para que não nos cacem
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Podemos falar em várias “funções” para a arte, uma das mais relevantes é utilizar a obra artística como instrumento para questionar a realidade objetiva, sendo assim o trabalho nos apresenta subsídios que nos auxiliam a vermos traços específicos de um panorama mais amplo, caso não fossem destacados estes detalhes normalmente passariam desapercebidos, mas quando nos são apresentados sob outra ótica vemos que é algo a ser pensado e se for o caso questionado. A questão seria levar a reflexão, não ao convencimento. É como se pudéssemos sair do contexto social em que vivemos e observá-lo como se fossemos estranhos. A criação de distopias é muito utilizada na literatura e na dramaturgia, porque nesta realidade imaginária o ponto a ser ressaltado pode ser ampliado, sob esta lente de aumento vemos o absurdo. Esta explicação é para mostrar os grandes méritos da dramaturga Dawn King em Foxfinder, em 2011 os regimes de extrema direita estavam ensaiando para voltar, mas a autora percebeu que ...